O trânsito caótico e o alto custo do metro quadrado comercial nas
grandes cidades promoveram o home office de tendência a necessidade. Cada vez
mais empresas estão adotando a solução de enviar parte dos seus colaboradores
para executar parte de suas tarefas remotamente. Com isso conseguem reduzir
custos, aumentar a produtividade, atrair e reter talentos, reduzir o
absenteísmo e atingir metas de sustentabilidade.
Mas apesar de todas as vantagens para as empresas, e para as pessoas que nelas
trabalham, o teletrabalho é um assunto que ainda gera muita insegurança entre
os gestores brasileiros. Com o objetivo de reduzir esta preocupação e garantir
que mais pessoas se beneficiem com o trabalho portátil, vou apresentar as
respostas para as principais questões geradas pelo assunto, e tentar derrubar
os maiores mitos sobre o trabalho realizado em espaços alternativos à empresa.
1. O funcionário não vai tomar chá de sumiço
Um dos maiores medos gerenciais com relação ao home office é a percepção de
perda de controle. Para muitos gestores, um colaborador remoto é uma pessoa a
menos na equipe.
Existem diversas configurações de trabalho a distância e em nenhuma delas o
colaborador fica isolado da empresa. Basta notar que na maioria dos casos o
trabalho é realizado remotamente somente dois ou três dias da semana.
E mesmo nos casos onde o trabalho é realizado 100% home based (como nos
programas de teleatendimento, por exemplo), os colaboradores devem participar
de reuniões presenciais na empresa no mínimo a cada 15 dias, para receber
feedbacks ou alinhar as tarefas com seus gestores.
Além disso, a tecnologia atualmente permite que gestores fiquem em constante
contato com sua equipe, seja através das ferramentas de comunicação ou dos
aplicativos de gestão remota de tarefas.
2. Quem paga a conta é a empresa. Ou o colaborador.
Ou ambos.
Não existe regra fixa na hora de dividir os custos de um programa de trabalho
remoto.
Algumas empresas pagam toda a conta: mobiliário, equipamento, capacitações e
custos fixos do home office (energia, telefone e banda larga). Outras oferecem
somente os treinamentos ou contribuem com os gastos fixos, depositando
mensalmente uma ajuda de custo. Existem ainda as que restringem a participação
no programa a colaboradores que já possuem notebook e celular da empresa,
economizando assim nos investimentos com equipamento.
Cada caso é um caso, e a divisão de custos vai depender dos itens estabelecidos
no guideline de cada programa de trabalho portátil e das políticas de cada
empresa.
3. O home office não é um fora-da-lei
Muitas empresas resistem ao home office por questionar sua adequação à
legislação brasileira.
A partir da alteração do artigo 6º da CLT em 2011, os direitos de quem trabalha
a distância foram equiparados aos de quem trabalha na sede da empresa. Com
isso, definiu-se um expediente de trabalho remoto com horário para começar e
para terminar. Contatos e demandas além destes limites, caracterizam hora
extra. A lei, portanto, valida as atividades remotas desde que estejam
limitadas dentro de uma jornada de trabalho. Este formato funciona bem com
alguns tipos de atividades, como por exemplo, o teleatendimento.
Quando há a necessidade de estabelecer um horário mais flexível de trabalho,
muitas empresas optam pelo contrato sem horário núcleo, onde não há controle de
jornada, nem pagamento de horas extraordinárias.
Para trabalhadores externos (vendedores, por exemplo) e ocupantes de cargo de
confiança existe ainda a exceção contida no artigo 62 da CLT, que também
permite contrato sem definição de jornada, em casos específicos.
E finalmente existem as ferramentas que limitam (ou evitam) o contato
telefônico ou por e-mail de gestores a colaboradores fora dos horários de
expediente, reduzindo a possibilidade de eventuais ações trabalhistas.
Qualquer que seja o caso, é fundamental envolver o departamento jurídico da
empresa nas discussões e definições de um programa de trabalho portátil. E, se
necessário, contratar uma assessoria especializada no assunto.
4. Tamanho não é documento
A impossibilidade de implementar um programa de trabalho portátil é muito mais
uma questão cultural na empresa do que uma limitação relacionada ao seu porte.
Algumas pequenas e médias empresas relacionam sua importância no mercado com a
área física de escritórios, a quantidade de estações de trabalho e o número de
funcionários presentes. Para estas empresas, estes elementos representam um
símbolo de status. Manter esta estrutura funcionando é um custo que nem sempre
compensa.
Quando não têm a necessidade de manter esta imagem, empresas de qualquer porte
podem implementar um programa de trabalho portátil e aproveitar seus
benefícios: atração e retenção de talentos, aumento na produtividade e redução
de custos. Para isso, basta que algumas de suas atividades sejam compatíveis
com o trabalho à distância.
E nos casos em que a empresa precisa crescer, esta modalidade permite ainda que
se façam novas contratações sem a necessidade de aumentar o espaço físico de
escritórios, economizando assim em custos imobiliários e gastos extras com
energia.
5. Os trabalhadores brasileiros são dignos de
confiança
Infelizmente, existe um senso comum de que no Brasil somos todos folgados e
malandros. Por isso, muitas empresas associam o teletrabalho com perda de
controle e redução na produtividade.
Aqui, como em qualquer lugar, existem realmente pessoas que exigem um
monitoramento constante, procrastinam, costumam faltar ao trabalho e mesmo
quando estão presentes são dispersos e improdutivos. Estes, com razão, não
podem trabalhar em home office.
Mas há também – e cada vez mais – trabalhadores brasileiros responsáveis,
disciplinados e éticos. Colaboradores com foco em resultados e que farão o
impossível para entregar um excelente trabalho e assim manter o privilégio de
trabalhar remotamente.
Cabe à empresa encontrar, recrutar, selecionar e capacitar os candidatos ideais
ao trabalho portátil, para que possam reproduzir sua alta performance
trabalhando bem de qualquer lugar.
Nos próximos artigos vou apresentar quais são as características mais
importantes aos candidatos a home office.
6. Segredos são protegidos
Existe uma percepção de que dados sigilosos e informações confidenciais da
empresa poderão ser pirateadas no caminho que fazem entre o colaborador remoto
e a empresa. O risco de que isso aconteça é mínimo, pois a tecnologia já
oferece diversas ferramentas que permitem a transmissão de dados e o
armazenamento de informações com total segurança, mesmo que o trabalho seja
realizado a distância.
Entre as soluções estão as VPNs (Virtual Private Networks), que criptografam a
comunicação via internet entre colaborador remoto e empresa; e as VMs (Virtual
Machines), que permitem que todas as informações de que o colaborador precisa
para trabalhar sejam acessadas virtualmente de qualquer lugar, enquanto na
realidade estão armazenadas nos computadores da empresa.
7. Todo mundo sai ganhando
O trabalho portátil é o melhor dos dois mundos. Um programa de home office
permite que a empresa economize em custos imobiliários e ao mesmo tempo aumente
a motivação – e portanto a produtividade – dos colaboradores. Também
possibilita a atração e retenção de talentos e a inclusão de pessoas com
deficiência. Além disso, diminui os deslocamentos casa-trabalho, reduzindo a
perda de tempo em congestionamentos e com eles o estresse dos trabalhadores. E,
finalmente, permite que os colaboradores tenham uma vida mais saudável e passem
mais tempo com suas famílias: um ganho enorme em qualidade de vida.
Por que as empresas devem adotar o trabalho
portátil?
O cenário mudou. O Brasil cresceu muito nestes últimos anos e a infra-estrutura
viária das cidades não acompanhou este desenvolvimento. Além disso, a grande
competitividade no mercado global está obrigando a indústria nacional a
produzir mais com menor custo. E finalmente, a nova geração de talentos tem
buscado um formato mais flexível de trabalho e por isso escolhe trabalhar
somente em empresas que ofereçam este tipo de benefício.
Esta é uma realidade completamente nova para as empresas brasileiras. Muitas
estão se adaptando e vão evoluir. Outras permanecem resistentes e podem não
sobreviver.
O trabalho portátil é uma excelente solução para se adaptar a esta nova e
desconhecida paisagem corporativa. Transferir parte das atividades para que
sejam executadas remotamente reduz o impacto do déficit viário, potencializa a
produção, otimiza custos, atrai talentos em busca de flexibilidade e reduz o
turnover na equipe. Quem considerar o trabalho portátil para as questões que se
apresentam, terá maiores chances de continuar no jogo.
Fonte
Pequenas Empresas & Grandes
Negócios